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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Hibridismo de mídias - a salvação do cinema

Continuando o assunto de invasão de formatos e mistura de mídias, resolvi escrever agora – baseando-me na leitura de Arlindo Machado e Peter Greenaway – sobre o hibridismo no cinema em si.
Arlindo Machado no texto “Anarquia do audiovisual” (do livro Pré-cinemas e pós-cinemas) aborda o vídeo como sendo a última grande ruptura do Cinema. Antes disso, no mesmo patamar, está o advento da TV, muito tempo atrás: no final dos anos 30! -- Vale lembrar que o cinema sofreu quatro grandes crises: a primeira delas foi “sofrida” pelo surgimento do som, em 1927; posteriormente a cor foi a responsável por abalar as concepções cinematográficas vigentes, aproximadamente em 1939; a TV, em meados da década de 40 e, nas ultimas décadas, o vídeo. (Isso porque, quando Machado escrevia seu livro, o 3D ainda não tinha abalado as estruturas!)
Arlindo Machado considera que o inicio dessa “incorporação da eletrônica pelo cinema” se deu nos anos 70, com o filme 200 motels (1971), de Frank Zappa. Porém, essa ruptura com o vídeo, segundo o autor, se dá de forma lenta e desconfiada pelos cineastas, e em geral com intuito experimental, por causa da queda dos preços desses equipamentos.
O vídeo é visto por muitos autores e cineastas como a forma de salvação do cinema, como a ultima opção para evitar sua morte, inclusive por Machado, que propõe a junção das técnicas eletrônicas e tradicionais para a construção de um cinema não mais monótono e “careta”, seguidor de regras, em que não esperamos por mudanças, nem um cinema causador de receios, por ser considerado transgressor demais. Como sempre o equilíbrio é a forma sensata de resolver os problemas, e a fusão daquilo que se encontra de mais adequado nas duas técnicas é a melhor (e talvez única) alternativa para a “ressurreição” do cinema.
Seguindo também essa linha de pensamento, Peter Greenaway apóia seus argumentos no fato de que o cinema possui não menos que 112 anos e essa é uma boa razão para que nos disponhamos a renová-lo cada vez que isso for necessário. Hoje, inegavelmente, isso se faz necessário.

Rainha Elizabeth II usando óculos 3D: tradição mais tecnologia!
É preciso dar motivos para que os espectadores saiam de suas casas, paguem ingressos e reservem um determinado intervalo de tempo para se refugiarem nas salas escuras dos cinemas e ficarem olhando para uma grande tela iluminada com imagens em movimento.
A dinâmica da atualidade pede por mais do que simples historinhas reproduzidas sempre mais e mais da mesma maneira. Dado o montante de alternativas de entretenimento disponíveis na sociedade moderna, a tarefa de conquistar espectadores será cada vez mais árdua.
Assim como um relacionamento amoroso pode se tornar desgastante ao longo do tempo, a relação cinema- espectador se torna cada vez mais monótona. Temos que parar de usar vendas em tal situação. Já que o cinema se trata da arte mais cara para elaboração e o acesso continua restrito a uma minoria da sociedade. Realidade clara (não somente) da sociedade brasileira. No texto “o cinema está morto, vida longa ao cinema?”, de Peter Greenaway, ele apresenta estatísticas elaboradas em Hollywood que “afirmam que 75% das pessoas assistem a filmes na televisão, 20% compram filmes em vídeo ou DVD, e apenas 5% assistem a filmes nos lugares chamados salas de cinema”.
Sendo que a palavra “cinema” em seu sentido original já carrega em si o conceito de movimento – cinema quer dizer “escrita do movimento” --, podemos tomá-lo como fator fundamental também em sua construção e técnicas e não só como fator presente no resultado do processo de uma filmagem, abrindo caminho para novas técnicas, experimentando e aperfeiçoando-as e realizando cinema tal como devemos viver nossos dias, aproveitando as oportunidades capazes de impulsionar nossa vida e torná-la mais dinâmica. Qual é a graça de uma vida sem riscos e erros? É a mesma graça de um cinema sem riscos e erros, mas que também não ousa.  Citando Arlindo Machado “Devemos, portanto, considerar o cinema não como um modo de expressão fossilizado, paralisado na configuração que lhe deram Lumiere, Griffith e seus contemporâneos, mas como um sistema dinâmico”.
Na visão de Greenaway, porém, o cinema deixa de se comportar como essa arte do movimento a partir do momento em que se encontra submetida à tirania provenientes de diversos lados: tiranias do texto (já que se baseia fundamentalmente em roteiros) do ator (o ator como ponto central dos filmes), da câmera (que nos força à mimesis) e do quadro (limite retangular imposto milenarmente do teatro às fotografias).
Não há necessidade de uma brusca ruptura do apego ao vídeo e indiferença ao cinema, pois a intenção não é a de acelerar a morte do cinema e sim fortificá-lo e trazer, se não o novo, uma possibilidade de saída do “velho”. Ou seja, a proposta hoje, é a do hibridismo de técnicas ao passo em que o cinema vai se tornando eletrônico, também a TV supre boa parte de sua programação com filmes cinematográficos e inclusive algumas redes se preocupam com o financiamento e produção de alguns filmes. O contrário também ocorre: a produção de programas de TV por produtoras audiovisuais. Dadas as dificuldades de financiar os altos custos de filmagens de longas-metragens, as produtoras cinematográficas atendem a um leque cada vez maior de produtos audiovisuais, desde longas até produção de comerciais e vídeos para a internet.
Vitória

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